segunda-feira, 13 de junho de 2011

não quero saber de ti

Faz meses que não escreves
e aquele postal em branco
que chegou da tua terra
não tinha remetente

nem resposta, só a imagem
no verso: um verão genérico
com muitas flores de estufa
e um fundo imaculado

de varandas e relvados.
Não queres saber de mim,
mas eu posso confessar-te
que passei todo o inverno

entre as tropas de Massena,
na fronteira, no Buçaco -
e enquanto eles avançavam
reino adentro, de capítulo

em capítulo, para ganhar
ou perder outra batalha, eu
ficava cada vez mais para trás
nas colinas, com os mortos,

nos plainos abandonados
entre rascunhos de versos
à paisagem em destroços.
Olha a grande novidade.


Rui Pires Cabral
in Oráculos de Cabeceira, Averno

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