segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Começou hoje o período de formação no local, ou seja: trabalho e vendo mas como estou "em formação" recebo menos por cada hora de trabalho.
Comecei super nervosa, como todos os meus colegas. Já não trabalhava em call center desde 2006, nem me lembrava se alguma vez tive jeito para a coisa. Entrei logo com o pé direito ao bloquear duas vezes seguidas o acesso ao portal (eu acho que ninguém reparou, e ainda bem, mas eu comecei a trabalhar com uma moca descomunal). Lá me disseram para fazer log-in na conta de uma colega, coisa que demonstra que ninguém estava à espera que me safasse pois é nesse portal que registamos as nossas vendas. Aconteceu-me de tudo e rapidamente me lembrei por que motivo não trabalhava em call center há tanto tempo: gritaram comigo uma série de vezes, chamaram-me todos os nomes possíveis, uma senhora desatou a chorar pois telefonei para o telemóvel do marido já falecido, apanhei uma série de velhotes que me disseram o valor miserável das suas reformas...
Até que falei com uma senhora que quis logo aderir a um pacote que equivalia a duas vendas. Fiquei espantada e repeti as informações do serviço uma série de vezes, não fosse a senhora estar a perceber mal. Não, estava mesmo interessada naquilo, achou o pacote o máximo e nem tive que argumentar nada. Chamei logo a supervisora que fez uma grande festa. Fui de tal forma apanhada de surpresa que me atrapalhei uma várias vezes. Lá inseri todos os dados, só que o servidor estava de tal forma lento que levava dois minutos a processar qualquer informação (tenho de inserir mais de vinte dados). No meio disto tudo consegui perder duas canetas sem sair do local, ficando até à hora de saída a procurá-las sem sucesso. Depois lá me lembrei que estava na conta da minha colega e tive que voltar a fazer log-in na minha conta e inserir todos os dados outra vez. E o servidor continuava lento. Pedi-lhe cinco vezes para "aguardar um momento, estou a inserir os seus dados no servidor", fazendo-a aguardar longos minutos. Ela dizia que sim a tudo. 
Depois, e porque as coisas não podem ser assim tão fáceis, vejo que a senhora deve dinheiro à operadora - o que significa que terá de pagar o que deve antes de instalar o serviço, o que é o mesmo que dizer que é pouco provável que a venda aconteça de facto. "Tudo bem, quando os seus colegas me telefonarem amanhã sobre a dívida nós lá tratamos disso". 'tá-se.
Levei uma hora a fazer uma venda que demora em média trinta minutos, isto sem nunca ter de argumentar com a cliente. Grande festa com os supervisores, parabéns!, até porque depois de mim só um colega de formação é que fez uma venda (este, pois está claro). Não vendi nada o resto do dia, repetindo-se os gritos, as ofensas e as velhotas que já estão muito velhas para isso, deixe estar. Amanhã tens de fazer pelo menos cinco, disseram-me à saída. Cheguei a casa com uma enorme dor de cabeça e já percebo porque é que toda a gente naquele andar tem uma bola anti-stress em cima da mesa.

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