terça-feira, 16 de agosto de 2011

geração à rasca

Há dias pensei vir para aqui queixar-me de como é triste passar um Verão à procura de emprego. Estar o dia todo em casa porque não tenho dinheiro para gastar, ler todos os anúncios de emprego em todos os sites do género e só encontrar merda. Entregar currículos em lojas de centro comercial e nem aí me responderem. Perceber que os meus planos para trabalhar de dia e tirar o mestrado de noite eram completamente irrealistas. 

Mas a vida arranja sempre uma forma de provar que devemos pensar bem antes de nos queixarmos de barriga cheia. Hoje fui a uma entrevista para um emprego a tempo inteiro a vender coisas por telefone. Um emprego das 13h às 22h que por si só já me impede de tirar o mestrado.

A entrevistadora (funcionária de uma agência de trabalho temporário) raramente dizia uma frase sem um erro de português. O andar tinha péssimo aspecto, com baldes de água no meio do escritório. Além de mim, foram três os entrevistados: a segunda pessoa mais jovem deve ser sete anos mais velha que eu e eram os três licenciados em engenharia química. Todos eles tinham muita mais experiência de vendas e call center que eu. Demasiada experiência em call center.

O salário base é aceitável para quem quer sobreviver mas além disso existem as comissões. Aliás, se ficarmos um mês só a receber o salário base somos despedidos. O contrato é renovado a cada quinze dias. Sempre que assinar um contrato saberei que tenho emprego por mais duas semanas. Emprego esse que me irá pagar um quarto (alugado pelo menos a cada seis meses), o passe mensal, as contas, a alimentação, tudo. Do mestrado já desisti, não tenho como pagar as propinas. A carta também está longe: quando (se!) conseguir juntar dinheiro para a pagar terei sempre de pensar se é um bom investimento, se não deveria guardar aquele dinheiro para uma altura em que esteja desempregada.

Não tenho outra hipótese se não aceitar. Mas só de pensar que daqui a dezoito anos (quando tiver a idade da mulher mais velha que fez comigo a entrevista) poderei continuar a assinar contratos de trabalho a cada duas semanas sinto vontade de chorar.

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